sexta-feira, 11 de março de 2011

Combate à dengue: “Está tudo errado”

“Está tudo errado!” Essa é a opinião do presidente da Sociedade de Infectologia do Rio Grande do Norte, Hênio Lacerda, sobre a forma como o poder público e a população agem para combater a dengue. Para o médico, a falta de infraestrutura das cidades, somada a deficiência da rede de saúde, aos maus hábitos da população e às ações inadequadas do poder público são responsáveis pelo aumento dos casos da doença no Rio Grande do Norte e no Brasil.

“A nossa distribuição da água é intermitente. Hoje eu tenho água, mas amanhã eu não tenho e aí as pessoas precisam armazenar água e isso é um ponto favorável para a proliferação do mosquito. Temos a irregularidade da coleta de lixo, ruas que não são calçadas,  falta de saneamento básico. Junte isso a falta de colaboração da população, que produz condições para proliferação do mosquito. Do ponto de vista do poder público temos uma vigilância epidemiológica deficitária”, exemplifica o infectologista.
Ele diz ainda que todos esses fatores contribuem para que a população adoeça e é quando aparece mais uma falha na estratégia de combate à dengue: a deficiência da rede de saúde básica. A população procura assistência médica e não encontra ou quando encontra é atendido de forma inadequada. O paciente com dengue clássica deveria ser atendido pela rede básica, mas ela não funciona. Aí eles são encaminhados para os hospitais de referência, que deveriam atender apenas os casos mais graves, mas ficam abarrotados com vários doentes.   “Eu comparo a uma orquestra onde todos  tocam desafinados. O poder público não faz a sua parte, a população também não, os médicos não atendem como deveriam atender, o serviço não oferecem os recursos. É um emaranhado de erros”, diz Hênio Lacerda.

E a situação é antiga. Em 15 anos, desde que a doença chegou ao RN, já ocorreram três grandes epidemias (1996/1997, 2002/2003 e 2008) fora os anos em que se registra grandes quantitativos de casos da doença, o que está acontecendo este ano.

Questionado sobre o que pode ser feito para reverter essa situação – que é de epidemia – o infectologista acredita que apenas o surgimento da vacina contra dengue é capaz de modificar o quadro do Rio Grande do Norte. O problema é que a previsão da comunidade científica é  que a vacina eficaz seja descoberta e concluída daqui a cinco ou dez anos.

“A única forma que eu vislumbro para acabar com a dengue é a chegada da vacina. Fora isso, é insistir, continuar cobrando do poder público e ficar atento as formas de transmissão e aos sintomas. Até a chegada da vacina, nós vamos continuar sofrendo”, disse o infectologista.

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