quarta-feira, 9 de março de 2011

Falta de vagas em UTI

A falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva no Rio Grande do Norte ficou ainda mais explícita com a visita da presidenta Dilma Roussef, que passou o carnaval em solo potiguar. No último domingo (13), João Lúcio Fonseca Filho, 62 anos, precisou de uma UTI, devido a uma hemorragia gástrica, mas todas estavam ocupadas. Com exceção de dois leitos do Hospital do Coração que estavam reservados para a presidenta.

“João estava em Caicó quando teve a hemorragia. Por volta das 5h da manhã ele veio para Natal. Ao chegar aqui, devido ao seu estado de saúde, foi necessário uma UTI, mas não tinha nenhuma disponível. Entramos em contato com vários hospitais, mas não havia disponibilidade. No único que tinha ‘vaga’, o Hospital do Coração, fui informada que ele não poderia ser transferido porque os dois leitos estavam reservados para a presidenta Dilma”, disse Magnólia Fonseca, esposa de João Lúcio.

Ainda segundo Magnólia, não houve falta de atendimento. João Lúcio recebeu todos os cuidados necessários para que o quadro de saúde dele não fosse agravado. “Tinha um leito no São Lucas -onde ele recebeu todo atendimento possível -mas chegou um paciente mais grave e teve prioridade. Também não acho justo ele ocupar uma vaga de hospital público, já que ele tinha plano de saúde”, explicou Magnólia.

Mas João Lúcio acabou sendo levado para uma UTI do Hospital da Polícia Militar. Mas na última segunda-feira (07), ele foi transferido para o São Lucas. “Hoje o quadro dele é regular, está tudo correndo dentro do normal, para o estado de saúde dele”, disse Magnólia.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com o diretor financeiro do Hospital do Coração, Lauro Arruda, que disse que não houve reserva de leitos para a presidenta Dilma. “Sempre que alguma autoridade vem para Natal, nós somos comunicados, é feita uma reserva oficial e com antecedência, mas dessa vez não houve. Não foi reservado nenhum leito para a presidenta no Hospital do Coração”, disse Lauro Arruda.

Ainda segundo ele, os 26 leitos de UTI do hospital estavam praticamente lotados no período do carnaval. “Cerca de 80% dos leitos estavam ocupados. Além disso, nós temos que deixar leitos disponíveis para os pacientes que estão internados no hospital e que podem precisar de UTI. O que pode ter acontecido é o hospital não atender o convênio desse paciente”, disse.

Hoje, o número de leitos de UTI geral no RN é 50% inferior ao recomendado pelo Ministério da Saúde, que preconiza que os leitos de UTI correspondam a 4 a 10% do valor total de leitos clínicos. São 151 leitos, nas diversas especialidades para atender a população da capital, quando são necessário 300.

Walfredo Gurgel

O movimento no maior pronto-socorro do Estado, o Hospital Walfredo Gurgel, foi considerado tranquilo. De acordo com o secretário estadual de saúde, Domício Arruda, houve uma média de 160 atendimentos por dia, quase a metade dos procedimentos realizados em dias normais.

“Desses casos, 50 são de urgência e emergência de trauma. Tem sido feitas cerca de 15 cirurgias ortopédicas por dia. O hospital está lotado, mas está se processando normalmente”, disse Arruda.

Com relação aos leitos de UTI, cerca de 20 pacientes estão no aguardo. Eles estão em UTIs clandestinas, que no jargão médico quer dizer que são leitos onde pacientes críticos aguardam uma UTI, mas recebem todo o cuidado necessário, como se nela estivesse.

Um deles é o pai da dona de casa Gisele Vicente da Silva. Segundo ela, João Vicente, 64 anos, está internado há 10 dias no HGW. “Ele está precisando de uma UTI, mas não tem disponível aqui. Enquanto isso, ele fica na observação”, disse a dona de casa Cerca de 20 pacientes estão  nos corredores do hospital. Uns estão internados e outros em observação. “Para o Walfredo Gurgel, esse movimento está calmo”, disse Domício Arruda.

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