terça-feira, 5 de abril de 2011

Mulher descreve em tempo real execução feita por PMs

São Paulo (AE) - Ligação feita em 12 de março para o 190, o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), revela em tempo real execução praticada por policiais da 4ª Companhia do 29º Batalhão. A testemunha está sob proteção policial. Ela ligou para o Copom e descreveu o crime, que foi gravado. O caso foi revelado com exclusividade no Estadão.com.br. “Olha, eu estou no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa do carro e deu um tiro. Eu estou aqui do lado da sepultura do meu pai.”

De onde estava, a testemunha não conseguia ver a placa nem o prefixo da viatura. Mas, enquanto falava com o 190, teve sangue-frio de esperar. “‘Pera’ só um pouquinho, porque eles vão passar por mim agora. Espero que não me matem também. A placa é DJM-0451, o prefixo é 29.411, M 29.411.”

Após perceber que haviam sido vistos pela testemunha, um dos policiais vai na direção dela. Corajosa, ela pergunta: “O senhor que estava naquela viatura? O senhor que acertou o disparo ali? Foi o senhor que tirou a pessoa de dentro? Estava próximo de onde estávamos. Eu estou falando com a Polícia Militar.”

O policial diz que estava socorrendo a vítima e tenta levá-la à delegacia. “Estava socorrendo? Meu senhor, olhe bem para a minha cara. Eu não vou (para a delegacia). Ele falou que estava socorrendo. É mentira, senhor. É mentira. Eu não quero conversar com o senhor. E o senhor tem a consciência do que o senhor faz.” O áudio termina com o atendente do 190 pedindo para a testemunha ligar na Corregedoria.

Após o crime, os PMs acusados da execução registraram boletim de ocorrência (BO) de roubo seguido de resistência e morte no 50º Distrito Policial (DP), na zona leste. Alegaram que o homem morto, Dileone Lacerda Aquino, havia resistido à prisão. Segundo o BO, os PMs Ailton Vital da Silva e Filipe Daniel da Silva, da 4ª Companhia, foram chamados pelo Copom para atender a um caso de roubo de carga no Itaim Paulista, zona leste. A viatura M 29.411 (a mesma vista no cemitério), segundo o BO, passou a seguir a van branca que havia sido roubada. Na perseguição, a van tentou entrar em um condomínio residencial, derrubou a cancela e bateu em dois carros. O condutor da van, no relato dos policiais, fugiu efetuando disparos e teria sido ferido, morrendo no hospital. Mas a iniciativa da testemunha fez a versão dos policiais cair por terra. Os dois PMs envolvidos na ocorrência estão presos no Romão Gomes.

Ontem, após a divulgação do áudio no Estadão.com.br, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) convocou coletiva de imprensa. Aos jornalistas, o tenente-coronel Roberto Fernandes, comandante do 29º Batalhão, disse que teve convicção de que os policiais cometeram o crime após ouvir o depoimento deles e o áudio da testemunha. “Houve contradições. Pequenos detalhes das versões de um e de outro não bateram.”

De acordo com o comandante, o Conselho de Disciplina da PM vai avaliar a possibilidade de expulsão dos dois policiais no prazo de 45 dias. “É inconcebível esse tipo de atitude de um policial formado para salvar vidas.” O comandante fez questão de ressaltar a importância da confiança do cidadão paulistano nos serviços de 190 da Polícia Militar, a exemplo da denúncia realizada pela senhora do cemitério que segue protegida pela Justiça. “Aqui não passamos a mão na cabeça.”

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